Escultura sempre me fascinou muito. Só vendo de perto uma dessas maravilhas pra saber a grandiosidade do artista que a fez e se embasbacar com a habilidade que a maioria de nós nem sonha ser possível. Ela é a quarta das sete grandes artes e, sem dúvida, a melhor maneira de deixar uma mensagem pra posteridade.
Um dos motivos artísticos que predominavam na renascença italiana era o das figuras religiosas, e uma delas era especialmente imponente e muito requisitada pelos poderosos da época.
A imagem do rei bíblico David na sua batalha contra o gigante filisteu Golias era vista como um símbolo da república e de poder sobre seus inimigos, internos e externos, e era repetida em todos os lugares importantes da Florença quatrocentista.
Abaixo estão quatro estátuas de três artistas diferentes, expoentes da arte de sue tempo e admirados até os dias de hoje, que mostram o fascínio dos italianos daquela época por este personagem tão emblemático da história judaico-cristã.
Esta primeira estátua foi feita por Andrea Del Verrochio, um escultor florentino nascido em 1435 que foi mestre, entre outros, de Leonardo da Vinci. A estátua foi encomendada por um dos membros da família Medici, porém não se sabe ao certo se foi por própio Piero di Cosimo ou um de seus filhos, Loenzo o Magnífico ou Giuliano di Medici. Ficou pronta no ano de 1475 mas, em 1476 estes dois últimos venderam a estátua para o governo de Florença.
A obra tem 1,26 metros de altura, mais de 540 anos e é feita em bronze. Está vestida, segura uma espada com a mão direita e tem entre seus pés a cabeça decepada de Golias. Ao tempo que foi exposta pela primeira vez mostrava um David loiro, com cabelos cobertos por uma fina camada de ouro. Está atualmente exposta no Museo Nazionale de Bargello, em Florença.
Estas duas figuras seguintes de David foram esculpidas pelo mestre renascentista Donatello, nascido em Florença no ano de 1386. A primeira das duas é feita em mármore, com 1,90 de altura e mostra um David triunfante, coberto com uma manta que vai dos ombros aos pés. Foi feita em 1408 e mostra um futuro rei jovial, mas com aparência já adulta.
A segunda mostra o rei hebreu nu em bronze e segurando uma espada na sua mão direita. Ela é o primeiro nu masculino desde a antiguidade e tem pouco menos de 1,60 de altura. É um David bem mais novo, com um chapéu laureado e uma pose e fisionomia mais jovial e inocente. Este efeito de aparência de fragilidade foi acentuado para mostrar que, ao eliminar o gigante, o futuro rei não passava de um menino e que a glória de seu feito deveria ser totalmente consagrada à Deus.
Ambas estão no Museo Nazionale de Bargello, em Florença.
Este próximo colosso de Michelangelo é a estátua renascentista mais conhecida no mundo. Pronta em 1504, ela é um gigante esculpido em um único bloco de mármore de Carrara, com 5,17 metros de altura e mais de cinco toneladas e meia. Foi encomendada para ficar em cima de um dos contrafortes da monumental Catedral de Florença, mas seu descomunal tamanho impossibilitou que ela fosse erguida até o topo da igreja. Em 2010, uma réplica de fibra de vidro foi exposta por um dia no lugar onde a estátua deveria estar originalmente, e podemos concordar que a ideia era ótima.
O David, no entanto, foi para Piazza della Signoria, na frente do Pallazo Vecchio, sede do governo florentino renascentista, onde substituiu uma estátua de bronze de Donatello. Naquela época o seu estilingue e o tronco no qual sua perna direita está apoiada eram folheados a ouro. Foi o primeiro David esculpido sem a presença de Golias e mostra um David poderoso, altivo, pronto para a batalha. Antes de um símbolo iconográfico, a estátua foi testamento político do poder de Florença sobre seus adversários. Ela está exposta na Galleria dell'Accademia, em florença, desde 1873.
Este último é o meu favorito, tanto a escultura quanto o artista que a deu forma: o David de Gian Lorenzo Bernini. Esta obra foi encomendada por cardeal Scipione Borghese, ficou pronta em seis meses, no ano de 1624 e tem 1,70 metros de altura. No estilo barroco, ela mostra um David de aparência adulta, em tamanho natural, no ato de atirar a pedra na cabeça do gigante filisteu. Seu rosto denota uma concentração que está fora dos padrões escultórios renascentistas e muito diferente dos retratados em esculturas anteriores. Bernini esculpiu este David à sua imagem, como era de seu costume. Ao contrário das outras, esta obra tem que ser apreciada de todos os ângulos, pois não foi feita para ficar contra uma parede ou em cima de uma igreja. Esta exposta na Galleria Borghese, em Roma.
